segunda-feira, maio 30, 2011

Notícia

Ele está longe e chora.
Não sei dizer por quê
nem há quanto tempo.
Sei pouco dele
mas sei desse detalhe
como de folhas secas
flores tristes
e ruas
aonde não chega o sol.

sexta-feira, maio 27, 2011

Rios

 
                              Da internet, sem nome de autor. 


Este rio lamentoso
reza pedras de rosário
estrada estreita e molhada
diferente das estradas
líquidas
de outras terras.

Este outro rio
devoto e pio
murmura preces
de quem já sabe
que um dia seca.

Desliza
de espelho incerto
cumpre seu curso
mas não tem barcos
rola e murmura
sempre modesto.

Paixão de rio
é amar o abismo
e se entregar
sem medo
ao salto.

Mais desinquietos
são outros rios
que ele recorda.

Dessa janela
penso no Reno
vejo o Amazonas
na fantasia
e o São Francisco
mas este rio
se chama apenas
o Trapicheiro.




quarta-feira, maio 25, 2011

Voo sem asas

Amar
é interromper o interior das coisas
como quem lê as cartas do tarô.

É susto divisório
vidro quebrado aos pés
e golpe na garganta
sem contenda.
 
Amar é se queimar
feliz do fogo
exasperar a vida
em mortes repetidas
e voar sem asas
pelo paraíso.

segunda-feira, maio 23, 2011

baú

no baú do quarto
cultiva cenários mortos
e sóis que nem nasceram

sexta-feira, maio 20, 2011

Retrato

O dia passou veloz
trouxe a janela de maio
e uma voz antiga como a brisa.

Guardei o dia
no álbum dos retratos mais amados.

quarta-feira, maio 18, 2011

Calçadas


Anda pelas calçadas conhecidas
desta e de outras cidades
e nunca deixaria de chegar
ao arvoredo
na praça onde há mais sombra
insetos entre o cascalho
e o que se espera
nunca é mencionado
– algum desejo
alternativo às lembranças
de hálitos ou gestos.

Ao menos nessa noite
a assimetria de um espaço novo
na cidade
algum lugar marcado
como um cenário
uma pisada no cimento fresco.

Teria visto um agitar de asas
sobressalto
para lembrar na hora do café
e ter certeza enfim de alguma coisa
mesmo não dita
mas infiltrada e aspergida
algum lugar
enfim
transporte para a vida. 



segunda-feira, maio 16, 2011

Despetalado




Se a luz que percorria nosso corpo
do amor
se apaga
a escuridão nos ata
e a ausência de quem se ama
pesa mais.

Uma palavra pronta a ser dita
que os lábios calam
é silêncio maior que a música
e canta
mas entristece.

Carregamos o peso das ausências
as palavras caladas
e os desejos
despetalados
antes de florescer.


quarta-feira, maio 11, 2011

A falta

Que pena
andar em calçadas conhecidas
e nem ao menos
chegar ao arvoredo na pracinha
onde há mais sombra
para a conversa
e os insetos
criam um ruído de rampa
no cascalho liso

O mais provável
no entanto
é sempre o não falado
a estrutura submissa do desejo
a alternativa
ao que não pode ser
mais do que o hálito
ou um gesto
do qual toda esperança.
se apagou.

segunda-feira, maio 09, 2011

Cicatriz

 
A hora que passou
sem que eles se encontrassem
nunca será esquecida.

Aquela hora
intensa e branca
cicatriz.

Aquilo que se perde
é o mais presente
de todos os presentes.

sexta-feira, maio 06, 2011

A espera



O chão de cerâmica
era vazio
e não se via o céu.
Um homem a meu lado
falava de música
e eu imaginava
como seria bom
naquele momento
preencher o chão vazio
da espera.

quarta-feira, maio 04, 2011

Tempo morto


Pesa um silêncio sem volta noite adentro
e luz de água parada nas coisas do outro dia.
É sem remédio e antigo o que acomoda a vida nesse estado.
É mais que tédio
o que resiste e não atrai ou repele
antes se fecha em flor pendendo murcha
vegetal que já não vive
antes que a morte seque o movimento
antes que a pele se solte do músculo contrito.

Como se a vida tivesse se afastado
para espiar de longe a realidade
tudo agora é queda
e nada ficou por descobrir.

Poema reeditado


segunda-feira, maio 02, 2011

Se conseguisse voar


 Nasci sem asas
e sei do mar aberto
brilho cego dos abismos.

Na certa repetiria
o sonho de Ícaro
devastado diante de seu pai
afogado
aos olhos do mundo indiferente.

Mesmo distante do sol
não restaria muita esperança.
Mas é preciso escolher alguma rota.