terça-feira, abril 29, 2008

Acontece




Imagem extraída do Breathtaking Photos.


Encontrada a passagem perdida
outro viaja
e quem pagou por ela volta à fila.

sexta-feira, abril 25, 2008

História de pescador


Foto Neysi Oliveira. Antonina.

Ele parou entre as árvores
onde a voz do mar alcança
e ouviu corações de terra
misturados na maré
em mais de cinco sentidos.

Cinco luas dentro dágua
mais outras peles de sol
plantaram em seu coração
a história que o mar sereia
repete com voz de tempo
história de luz escamas
e arrepio
nas caras que vêm nas ondas
quando despejam na praia
os peixes da preamar.

segunda-feira, abril 21, 2008

Toda palavra


Escher. Puddle.

Toda palavra tem a dupla face
raso e deriva.

Toda palavra traz
à tona um corpo uma coisa ou
rastros de outro corpo
a não ser por exemplo
tratar-se de uma aurora
nem boreal nem retrato.

Mas as palavras sobem
estranhas espirais
corpos de fumo
ou curtumes
de intenções que escapam
pelos braços
e mutantes
domam nossos sentidos

sexta-feira, abril 18, 2008

Quadro



Estou pensando num quadro
nuvens de filó-colméia
voile pura luz tecida.

Um quadro além da moldura
e as cortinas desbordando
sem nunca pensar no fim.


terça-feira, abril 15, 2008

Sazonal II



A memória é um jardim
de jasmins em pleno outono
e rosas na tempestade.

domingo, abril 13, 2008

...

...

Tua lembrança
é o acorde desafinado de uma guitarra
durante o show.

Tua lembrança
é meu não-ser que assoma
cheio de fome.

sexta-feira, abril 11, 2008

Romance


  Imagem Simon Tyszko.


Existiram pela tarde
e nas lagoas da noite
sentiram o cheiro que tinham
e iluminaram a pele
antes da aurora marcada.

Cantaram hinos
arfaram
as bandeiras da alegria
todas as noites do ano
tremendo no calendário.

Inexistiram
na noite sem aurora
nem lagoas
guardadas as bandeiras
refeito o calendário.

quarta-feira, abril 09, 2008

Marés





Um lado do horizonte está perdido
nas horas encobertas pelas águas
pegadas que o vento cura.

O sol tirou das águas do delírio
um rastro aceso
memória morta de astro.

Restam as espumas as tardes
o lixo das marés
e os náufragos lavados pelo sal
que nunca vimos
mas conhecemos na pele
de nossos corpos vulneráveis.

quinta-feira, abril 03, 2008

Cidade do céu aberto




A lua é ciranda muda
impregnada nos telhados.

Em cada esquina
a vida presta homenagem a seus mortos
e os vivos
fazem de conta que há anos
nada acontece por lá
ou quase nada.
Polem as pratas
conservam imagens
executam sacralezas
no órgão da catedral.

No mais é subir ladeiras
ter orgulho de suas lajes
e mergulhar na vertigem côncava da noite
para gerar os filhos que irão nascer
antes da procissão de Corpus Christi.