sábado, setembro 27, 2008

Manhã 2




São densas as manhãs
antes da vida
quando se emerge da
gruta no
jogo da memória.

A vala cega do sono desnivela
cada história
que recomeça à mesa do café.

terça-feira, setembro 23, 2008

Voo

Abri a janela
e o pequeno silêncio
voou
diluído em luz.

domingo, setembro 21, 2008

Sem saída


Charles Sheeler. Janelas.

No ponto de ônibus
a gente olha as revistas
da banca
e dos grafites escorre esta cidade
enquanto
a furadeira tritura uma energia
suada ao sol.
 
Os ônibus são animais em extinção
noutro hemisfério
mas aqui
bebemos mistérios de óleo diesel.

A lua em marcha vai sumir do céu
levando em suas pontas
esgarçado
o território da estação mais fértil
sem que a cidade
consiga adormecer.

terça-feira, setembro 09, 2008

Manhã

Munch. Manhã.



O mundo do quarto
mantém uníssona a regalia
da solidão acolchoada.

Só o risco dos pássaros perfura
o esboço do silêncio
e transtorna o instante.

domingo, setembro 07, 2008

Urbana






O jazz rolando na sala
no morro ensaio de escola
no rádio do vizinho
Astor Piazzola.

terça-feira, setembro 02, 2008

Fruta

Cada momento é fruta
doçura perecível
se o deixamos passar do ponto.

segunda-feira, setembro 01, 2008

Cósmica



Sempre soube
do bairro silencioso onde nasceu
das rachaduras em cada calçada
e ainda assim
imaginava a hipótese improvável de
uma surpresa naquela paisagem.

Talvez até desejasse uma mudança
que a integridade pede para ser quebrada
e entanto não lhe ocorria saída para o tédio
nos dias tão iguais desses lugares.

No bairro silencioso
ele esquecia
: em torno do silêncio
zumbe o mundo
e uma propagação de esferas
consteladas.